O uso da tecnologia em saúde
A tecnologia vem ajudando no tratamento e na descoberta de novas doenças. São várias as novidades, e a introdução de robôs em cirurgias à distância é uma delas.
Na cirurgia robótica, após a introdução de pinças no organismo, o cirurgião controla os movimentos pelo robô, que pode estar online em qualquer lugar do mundo. Mas isso ainda não é feito no Brasil, por questões éticas e falta de logística. Ainda existem muitos questionamentos do tipo: em complicações da cirurgia quem seria o cirurgião responsável? O que ficou à distância ou o presencial?
Há também falhas na Internet e o fato de o tempo de transmissão dos dados, nem sempre, ser real. Contudo, o caminho está aberto para que isso se concretize num futuro próximo.
Outra novidade é que já existem dispositivos, ainda sem aplicação prática, que utilizam as nano partículas, ou partículas microscópicas, que, se incorporadas às drogas, podem ser injetadas na corrente sanguínea de um indivíduo e chegar diretamente a um tumor. Poder-se-ia carregar um quimioterápico ou um rádio nucleotídeo numa quantidade que, se fosse aplicado sistemicamente pela corrente sanguínea, seria tóxico, mas sendo aplicado através de um dispositivo teleguiado atinge diretamente o alvo. Esses estudos estão em fase bem avançada.
O Genoma Humano foi mapeado em 2002. Apesar de ser recente, foi possível comparar as células normais com as células alteradas de um tumor, levando à descoberta de diversos mecanismos que estimulam a carcinogênese, como mutações da expressão gênica, rearranjos cromossômicos e defeitos na estimulação da imunidade. Dessa maneira, foram criadas drogas dirigidas para essas alterações genéticas, que estão presentes na célula do tumor e que não estão presentes na célula normal, destruindo só a célula doente.
O importante é que já fazem parte da realidade atual. Essas drogas já são usadas para tratar alguns cânceres, como o de pulmão, que tem alta mutageneticidade devido ao fumo, à poluição e a outros produtos inalatórios. Essas agressões externas contínuas às células normais causam muitas mutações e, quando elas se repetem, através desses estudos genéticos, os alvos podem ser identificados. Algumas drogas se ligam diretamente a essa falha. Isso facilita o tratamento e dá margem para que ele seja mais específico e individualizado, com mais atividade e menos efeitos colaterais.
Existem mutações raras que equivalem a menos de 1% dos cânceres. Mas existindo uma droga específica para neutralizar este tipo de mutação, a chance de resposta é muito maior. Porém, existem algumas dificuldades. Esse tipo de tratamento é limitado pelo SUS e as novas tecnologias chegam primeiro às redes particulares, sendo inicialmente usadas em doentes incuráveis, que fazem tratamentos paliativos. Somente com o tempo, e se a droga for muito efetiva, ela começa a ser estudada para tratamento curativo. Já existem algumas dessas drogas inteligentes sendo usadas para tratamentos curativos, porém, a um custo muito alto. Somente com o tempo esse custo vai diminuindo, pois a tecnologia fica disponível para se fazer os genéricos, por exemplo.
Cabe ressaltar que algumas dessas drogas estão registradas no Brasil apenas para alguns tipos de tumores, sendo a maioria para Câncer de Pulmão e Melanoma, rim e agora bexiga, que são os cânceres com mais imunogenicidade. Infelizmente há um complicador quando o medicamento disponível no Brasil não está registrado para um determinado tipo de tumor, pois, neste caso, a fonte pagadora não tem obrigação de custeá-lo, mesmo que o medicamento padrão seja mais oneroso. O que se percebe é que há uma dificuldade cultural da área de saúde no Brasil em absorver novas tecnologia e inovações com rapidez. Com isso, o paciente deixa de receber um tratamento com o qual teria benefícios, como redução de efeitos colaterais e resposta prolongada durante anos. Acredita-se que somente uma maior mobilização da sociedade é capaz de contribuir para que estas novas tecnologias sejam utilizadas com mais facilidade.
Drª Kítia Perciano é oncologista e diretora do NEON.